A Avaliação Psicológica, pauta de muitos debates, foi, muitas vezes, encarada como propositora de práticas profissionais que produziam, por si mesmas, formas de exclusão de pessoas, ao assumir que expressões de classes sociais privilegiadas eram superiores e as únicas corretas. Essa compreensão da área tem explicação nos primórdios da Psicologia enquanto profissão no Brasil, quando houve inúmeras situações em que essa asserção foi verdadeira.
Como exemplo, tivemos o amplo uso de testes elaborados em países desenvolvidos que eram simplesmente traduzidos e aplicados, sendo os resultados analisados com base em tabelas normativas criadas em seu local de origem, cujos resultados sempre desprestigiavam os avaliados brasileiros. Não se poderia apenas comparar pessoas que viviam em sociedades com recursos e valores distintos, embora vivessem no mesmo espaço temporal, com outras que viviam em contextos históricos e sociais característicos.
Um olhar contemporâneo para a avaliação psicológica esclarece que ela tem sido compreendida como um amplo processo de compreensão das dinâmicas psicológicas dos indivíduos, relacionadas criticamente às naturezas sociais, culturais políticas e econômicas, cujo objetivo é preparar intervenções psicológicas mais seguras e apropriadas a cada situação e a cada sujeito do processo. Mais especialmente, a avaliação psicológica é um processo multidimensional que envolve a utilização de técnicas e testes psicológicos, e está presente em vários processos de trabalho das(os) psicólogas(os), nas mais variadas áreas de atuação.
A avaliação psicológica é, por lei, prática exclusiva do psicólogo, e dele tem sido exigida a competência necessária para a realização de ações com excelência. Nesse sentido, um importante desafio para a avaliação deste Século XXI é promover ações integradas aos princípios éticos e de respeito aos Direitos Humanos, de modo que não mais sejam permitidas práticas excludentes ou preconceituosas.
É necessário que os profissionais considerem que todas as pessoas são únicas e que devem ser reconhecidas na sua singularidade. É preciso que os testes, que poderão ser usados como parte do processo de avaliação psicológica, sejam elaborados considerando aspectos relativos ao contexto histórico e cultural da pessoa e estejam adequados ao propósito para o qual foram propostos. É primordial que o profissional que executa a avaliação, com competência técnica e ética, exercite a sua condição de sujeito, capaz de avaliar o outro também na condição de sujeito. Por fim, entendemos que as(os) psicólogas(os) que atuam com a avaliação psicológica devem ter toda a disposição para a interlocução e o diálogo com os colegas de todas as áreas, reconhecendo a possibilidade de combate comum contra a violência e a vitimização de pessoas que têm direito a uma sociedade que trata seus cidadãos com equidade. A avaliação psicológica, tanto como área de investigação, como de aplicação, quer e pode lutar pela busca do bem comum.
Precisamos desenvolver esforços para garantir essa direção no trabalho em avaliação psicológica. Ao Conselho, cabe realizar todas as ações que garantam o zelo e a qualificação das práticas em avaliação psicológica orientadas por essa perspectiva, apoiando as formas organizativas do campo que favoreçam tal projeto. Esse é o caminho pelo qual queremos valorizar a avaliação psicológica como processo de trabalho subsidiário ao desenvolvimento de intervenções em Psicologia.
A Psicologia deve CUIDAR disso.