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Crianças que apresentam dificuldades – comportamentais e de aprendizagem – em seu processo de escolarização diagnosticadas como portadoras de transtornos e sendo alvo de diferentes terapêuticas; projeto da cura gay, que quer autorizar terapias psicológicas que promovam a reversão da homossexualidade à heterossexualidade; jovens em conflito com a lei diagnosticados como portadores de transtornos de personalidade, portanto irrecuperáveis, sendo apartados do convívio com a sociedade; transexuais sendo diagnosticados com transtornos mentais para poderem se submeter ao processo transexualizador; aumento no diagnóstico de transtornos; aumento no número de transtornos a serem diagnosticados; aumento no consumo de medicamentos e das mais variadas terapêuticas...

 

Tempos de patologização da vida, tempos de medicalização da vida! Quer dizer, tempos em que a vida passou a ser entendida a partir do binômio saúde-doença, por meio de um processo que reduz a sua complexidade, desconsiderando determinantes históricos, sociais, culturais, econômicos, políticos constitutivos dos fenômenos e atribuindo os produtos dessa complexidade a fatores meramente individuais. Assim, os sintomas e sofrimentos vividos por uma pessoa seriam causados unicamente por questões pessoais, quando não biológicas, sem que se considere o mundo em que vive e sua trajetória no mesmo.  Ora, sabemos que modos e contextos de vida nos fazem adoecer! E sabemos também que aquilo que é considerado saúde ou doença muda ao longo de nossa história e de acordo com nossas inserções sociais e culturais. Como também mudam as maneiras de se lidar com diferentes modos de ser, sobretudo daqueles que não atendem a expectativas sociais, que não necessariamente sempre foram tratados como doentes.

 

 Diante dessa realidade, a Psicologia tem muito a contribuir, reconhecendo que nossa subjetividade é constituída em processos e contextos sociais e relacionais, em diversas dimensões da vida pública e privada (família, escola, trabalho, vida comunitária, entre outros). A Psicologia pode contribuir no enfrentamento dos processos de medicalização e patologização ao questionar os modos de subjetivação em curso, resgatando histórias singulares e, ao mesmo tempo, produzindo singularidades.

 

Assim, a Psicologia pode afirmar outras maneiras de se compreender e se lidar com as diferenças, questionando como certas exigências sociais são construídas e vivenciadas pelos sujeitos. Ao mesmo tempo, pode colaborar com a ruptura da lógica de culpabilização do sujeito por ser quem ele pode ser, reconhecendo que os sofrimentos individuais se constroem a partir das relações e das condições de vida. A Psicologia pode ainda intervir sobre os processos que produzem sofrimento, quando for necessário, reconhecendo as transformações necessárias nos campos institucionais e relacionais vividos pelas pessoas.

 

Dessa forma, enfrentar processos de medicalização e patologização da vida é lutar pela afirmação do direito humano de podermos ser diferentes, singulares e de que tais diferenças enriqueçam nosso projeto de sociedade. É permitir que uma leitura que ultrapassa a referência à patologia reconheça o processo complexo constitutivo do fenômeno, complexificando, assim também, as formas de lidar e intervir diante dele.

 

Visando afirmar esse direito humano, a Chapa Pra Cuidar da Profissão em São Paulo pretende:

 

  •  construir junto com a categoria, Academia, entidades da Psicologia e movimento social referências para a atuação de psicólogas(os) em diferentes áreas e campos a partir de uma lógica desmedicalizante e despatologizante, uma lógica orientada por concepções e práticas singularizantes e inclusivas;

 

  • dialogar com o poder público (Legislativo e Executivo) buscando a inserção da Psicologia em diferentes políticas públicas em uma lógica desmedicalizante e despatologizante;

 

  • dialogar com a sociedade e com a mídia, esclarecendo e ampliando as possibilidades de atuação da Psicologia em uma lógica de cuidados singulares, que reconheçam diferentes modos de ser e enfrentem os determinantes dos processos vividos pelos sujeitos e expressos na sua individualidade;

 

  •  dar continuidade à campanha “Não há cura para quem não está doente”, iniciada na gestão 2010-2013 do Cuidar da Profissão no CRP SP, enfrentando projetos da cura gay, que visam sustar parte da Resolução CFP 01/99, tornando possível que psicólogas(os) ofereçam terapias de reversão para as homossexualidades.

 

A Psicologia deve CUIDAR disso!

Combatendo os Processos de Medicalização e Patologização da Vida

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