As categorias gênero sexual e sexualidade e suas intersecções são fundamentais nos trabalhos e pesquisas na área da Psicologia. Porém, nota-se que, ainda que central, essas categorias muitas vezes são obscurecidas, ou ignoradas. A discussão de gênero e categorias sociais é frequentemente vista em duas perspectivas: o entendimento dessas categorias enquanto essencialistas, reduzindo e determinando o sujeito a essas categorias; ou a anulação ou não consideração dessas categorias no entendimento da construção social do sujeito. Vemos as consequências dessas perspectivas em várias práticas da Psicologia, que muitas vezes acabam por formar perspectivas reducionistas, de um lado, ou, na anulação dessas categorias, correm, por outro lado, o risco de colaborar com a reprodução de desigualdades sociais.
É, portanto, fundamental o entendimento dessas categorias em suas intersecções enquanto estruturais na construção da subjetividade e da reprodução de desigualdade social. Assim, precisamos reconhecer os efeitos do sexismo, homofobia, racismo, etc. na constituição da subjetividade. Dessa perspectiva, é preciso olharmos para os usuários dos serviços de Psicologia e, ao mesmo tempo, para a(o) psicóloga(o), pois os efeitos das questões de gênero, raça, etnia, sexualidade, classe, deficiência, idade estão postos no exercício profissional, seja do ponto de vista do modo como esses elementos também vividos pela(o) profissional atuam nas leituras e intervenções com os usuários de seu serviço, seja do ponto de vista de como esses determinantes se colocam nos vários contextos em que atuam, exigindo enfrentamentos nas relações de trabalho e poder.
Alguns exemplos das desigualdades de gênero podem ser vistas como nas violências contra a mulher, na falta de autonomia corporal da mulher, na criminalização do aborto, na diferença salarial e de posição de trabalho entre homens e mulheres, no entendimento da loucura e agressividade entre mulheres e homens, entre outros. Na intersecção com outras categorias sociais, vemos como a categoria gênero sexual se move e se revela em relação ao racismo e à idade (situação de violência contra homens jovens negros), à sexualidade (homofobia) e em relação a qualquer categoria de desigualdade social, que produzem espaços sociais de desigualdade de direitos, opressão e discriminação.
Combater, assim como interrogar e visibilizar todas as formas de opressão, ainda que muitas vezes tidas como ‘naturais’ ou ‘normais’ em nossa sociedade é compromisso do Pra Cuidar da Profissão SP. É essencial para a construção de leituras críticas acerca dos fenômenos com os quais atuamos. É também essencial para recolocar o profissional em diversos contextos em que seu trabalho está atravessado pelos efeitos das desigualdades em relação a essas categorias, que recaem sobre as(os) próprias(os) psicólogas(os).
A Psicologia deve CUIDAR disso!
Intersecções Gênero, sexualidade, classe, raça, idade, deficiência
